Cinco meses após enchente, moradores ainda tentam recomeçar

Nos bairros afetados pouca coisa foi feita. A situação é mais grave no bairro Caxias, onde pedestres se arriscam em calçadas prestes a ruir.
No quarto de Genelson, morador do Fuguista, a marca da enchente ficou na parede. Há apenas uma cama, um colchonete e algumas peças de roupa (Foto: Seylor Ornellas/ Folha Itaocarense)
   Já se passaram cinco meses após o forte temporal que atingiu parte do município de Itaocara. A madrugada do dia 10 de dezembro de 2016 não será esquecida por muitos moradores da cidade. Cinco bairros foram castigados pela fúria da natureza e 236 famílias tiveram as casas invadidas pela água. Hoje, ainda há famílias que tentam recuperar o que perderam.

   Pouca coisa foi feita após a enchente. As marcas da enxurrada que atravessou parte da cidade ainda podem ser vistas nos bairros atingidos.

   No Caxias, as calçadas da Beira Valão tentam resistir aos trincados. Em alguns pontos, a terra que sustentava o concreto foi carregada pela enxurrada e as calçadas "explodiram" para diminuir a pressão da água dentro do córrego canalizado. Na época, parte da Beira Valão foi interditada e as crateras foram preenchidas com barro semanas depois, já na atual gestão.

   A medida de aterrar os buracos das calçados apenas solucionou parcialmente o problemas. As calçadas da Beira Valão ainda estão sem sustentação em vários pontos. Para piorar, há trechos onde o concreto afunda ou estufa.
Sem nada por baixo, o concreto da calçada afunda nas Ruas Cônego Ananias e Pastor José Henrique da Matta (Foto: Seylor Ornellas/ Folha Itaocarense)
   Além disso, ainda há moradores que tentam se recuperar após a enchente. É o caso de Genelson Júnior, que havia perdido o emprego naquele mês. A esposa de Júnior, Luciene Freitas, também perdeu o emprego em janeiro. Os dois estão a procura de emprego e decidiram colocar o carro à venda. Na casa deles, situada no bairro Fuguista, alguns móveis e eletrodomésticos foram reaproveitados, enquanto que outros foram doados por parentes ou reciclados. O criado usado para guardar alguns calçados foi feito com a porta do guarda-roupas que estragou na água. A geladeira do casal continua funcionando, mesmo com defeito. No orçamento apertado, não há espaço para comprar uma nova ou consertá-la.

   Somente no bairro Fuguista, mais de quarenta famílias ficaram desalojadas. Duas casas foram interditadas pela Defesa Civil, mas uma delas ainda abriga uma família, que não tem para onde ir. "Não acha casa barata para alugar na cidade", comenta a adolescente que mora no imóvel. Na sala há apenas uma geladeira e a cozinha está vazia. Parte do chão da casa afundou.

O temporal
Córrego transbordou após receber enxurrada da zona rural. Foi a pior cheia desde dezembro de 1984, segundo relatos de moradores (Foto: Arquivo/ Folha Itaocarense)
    A chuva forte que começou na noite anterior à enchente alagou ruas de quase todos os bairros da cidade, com maior intensidade no Centro, onde a água invadiu casas e o comércio. No bairro Bocaina, choveu 92mm em apenas uma hora. "A chuva começou por volta das 20h30 e ia aumentando, mas sem raio ou vento... não sabíamos o que ia acontecer", relata uma moradora do Fuguista.

   Os alagamentos no Centro escoaram cerca de uma hora após a chuva cessar. Mas a situação se agravaria horas depois, já na madrugada do dia 10 de dezembro. Na zona rural, enxurradas desciam os morros e iam se encontrando. O grande volume de água chegou ao Córrego Santo Antônio duas horas após a forte chuva. O fenômeno conhecido popularmente como "tromba d'água" atingiu primeiramente o Caeté, depois o Ambal, Adolvane, Fuguista, Caxias e por último, o Centro da cidade.

   O balanço da Defesa Civil de Itaocara, divulgado no dia 12 de dezembro, indicava 708 pessoas desalojadas. A água havia invadido 236 casas. Em alguns pontos, o córrego chegou a três metros acima do nível normal. Foi a pior cheia do córrego Santo Antônio desde 1984.

Medo de uma tragédia

   Famílias que moravam de aluguel no Fuguista deixaram o bairro temendo uma nova enchente. Os que ficaram, também relatam medo. "Agora toda vez que chove um pouco mais forte a gente conta no relógio", conta uma moradora do Fuguista.

   À nossa reportagem, moradores desabafaram com o abandono dos bairros. O Córrego Santo Antônio estaria assoreado desde a enchente. Em alguns trechos a água corre com dificuldade em meio ao mato e as bananeiras, que se espalham pelo leito.

Poder Público

   Dois dias após a enchente, o então prefeito Gelsimar Gonzaga decretou situação de emergência em Itaocara. O decreto precisaria ser reconhecido pelo Ministério da Integração, que afirma não ter recebido qualquer solicitação da Prefeitura. Já a gestão passada nega que tenha deixado de enviar o decreto ao Ministério. O fato é que o município não recebeu ajuda dos governos estadual e federal e os desalojados não tiveram direito de receber o FGTS.

   Procurada pela nossa redação, a atual gestão informou que tem dado assistência às famílias que ainda tentam se recuperar, seja com aluguel social ou com distribuição de cestas básicas. Após ser informada que há famílias que não recebem apoio, a Prefeitura comunicou que desconhecia essa situação e enviou a Defesa Civil para um levantamento. A Prefeitura também informou que os moradores atingidos que ainda passam por dificuldades e estão sem apoio devem procurar a Secretaria de Assistência Social.

   A Prefeitura de Itaocara também informou que há projetos para reconstruir a Beira Valão. Segundo a Prefeitura, parte da nova laje (praça) sobre o córrego está interditada até que um engenheiro avalie toda a estrutura, que pode ter ficado comprometida com a pressão da água. A atual gestão também tem trabalhado para liberar o CAUC e receber verbas destinadas para a área de obras, mas não há previsão de quando o município poderá receber verba para reconstrução das calçadas da Beira Valão.

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